Você sabe exatamente quanto o seu dinheiro rendeu no último mês? Se a resposta for “não” ou “acho que sim”, você está deixando dinheiro na mesa.
No mundo dos investimentos, informação é poder. Investir sem acompanhar é como dirigir um carro de olhos vendados: você pode até estar acelerando, mas não sabe se está indo na direção certa ou prestes a bater em um muro.
Seja você um investidor iniciante que acabou de comprar sua primeira ação ou título do Tesouro Direto, ou alguém que já possui diversos ativos, ter o controle total da sua carteira é o que separa os amadores dos profissionais. E a melhor ferramenta para isso não é um aplicativo caro ou um consultor exclusivo: é uma planilha de acompanhamento de carteira bem estruturada.
Neste guia completo, vamos ensinar o passo a passo de como criar sua própria planilha, quais indicadores monitorar e como transformar dados brutos em inteligência financeira para multiplicar seu patrimônio.
A Psicologia do Investidor: Por Que o Controle Manual Supera os Aplicativos?

Antes de abrirmos o Excel ou o Google Sheets, precisamos entender o porquê. Vivemos na era dos aplicativos automáticos que sincronizam com a bolsa de valores (B3) ou corretoras americanas e mostram seu saldo em tempo real. Eles são ótimos, mas têm um defeito grave: eles tornam você passivo.
Quando você constrói e alimenta sua própria planilha, acontece um fenômeno cognitivo importante:
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Consciência Financeira: Ao digitar cada aporte, você reflete sobre a decisão de compra.
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Visão de Longo Prazo: Planilhas permitem projeções personalizadas que apps genéricos não fazem.
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Independência: Você não fica refém de uma plataforma que pode passar a cobrar mensalidade ou falir, levando seu histórico junto.
Ter o controle nas suas mãos evita o “efeito manada” e ajuda a manter a frieza em momentos de queda do mercado.
Excel vs. Google Sheets: Qual a Melhor Ferramenta para Investidores em 2025?
Esta é a dúvida número um. Ambas as ferramentas são poderosas, mas para o investidor moderno, a escolha depende do seu estilo de vida.
Microsoft Excel
O clássico. É robusto, processa milhões de linhas sem travar e possui recursos gráficos avançados.
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Vantagem: Funciona offline e é extremamente seguro.
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Desvantagem: Para ter cotações em tempo real, muitas vezes exige plugins pagos ou versões mais recentes do Office 365.
Google Sheets (Planilhas Google)
A favorita da nova geração de investidores e a nossa recomendação para este tutorial.
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Vantagem Suprema: A função
=GOOGLEFINANCE. Com ela, você puxa a cotação de ações, FIIs (Fundos Imobiliários), ETFs e moedas automaticamente, com um atraso de apenas 15 a 20 minutos. -
Mobilidade: Você acessa do celular, do trabalho ou de casa, sem precisar salvar arquivos em pendrives.
Para este guia, focaremos na estrutura que funciona em ambos, mas com destaque para a facilidade do Google Sheets.
Estrutura Fundamental: Quais Dados Não Podem Faltar na Sua Tabela?
Uma planilha de investimentos não precisa ser um bicho de sete cabeças. Ela precisa ser funcional. Para começar, você deve dividir sua planilha em três abas (páginas) principais:
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Aba de Lançamentos (O Diário de Bordo): Onde você anota cada compra ou venda.
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Aba de Carteira Consolidada (O Painel de Controle): Onde você vê o resumo atual.
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Aba de Proventos (A Renda Passiva): Onde você registra dividendos e JCP.
Colunas Essenciais para a Aba “Carteira Consolidada”
Para que sua planilha forneça uma leitura clara da sua saúde financeira, crie as seguintes colunas:
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Código do Ativo (Ticker): Ex: PETR4, AAPL, VALE3.
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Classe de Ativo: Ações, Renda Fixa, FIIs, Criptomoedas. Isso ajudará nos gráficos de pizza.
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Quantidade Total: Quantas cotas você possui hoje.
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Preço Médio (PM): O indicador mais importante. É a média de preço que você pagou por aquele ativo ao longo do tempo.
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Preço Atual (Cotação): O valor de mercado hoje.
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Custo Total de Aquisição: (Quantidade x Preço Médio). Quanto saiu do seu bolso.
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Saldo Atual: (Quantidade x Preço Atual). Quanto vale hoje.
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Resultado (R$): (Saldo Atual – Custo Total). Seu lucro ou prejuízo financeiro.
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Rentabilidade (%): Seu lucro ou prejuízo em porcentagem.
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Peso na Carteira (%): Quanto aquele ativo representa do seu patrimônio total.
Passo a Passo: Dominando o “Preço Médio” para Não Ser Enganado pelo Lucro Falso

Muitos investidores iniciantes olham apenas para a cotação atual e acham que estão ricos. O segredo da contabilidade pessoal está no Preço Médio (PM).
Se você comprou 10 ações a R$ 10,00 e depois mais 10 ações a R$ 20,00, seu preço médio não é R$ 20,00, nem R$ 10,00. É R$ 15,00.
Fórmula do Preço Médio Ponderado:
((Qtd1 x Preço1) + (Qtd2 x Preço2)) / (Qtd Total)
Sua planilha deve calcular isso automaticamente. Sem o PM correto, você não saberá se está realmente ganhando dinheiro acima da inflação ou apenas recuperando perdas passadas. Além disso, o Preço Médio é a base para a declaração do Imposto de Renda.
Automatização Inteligente: Como Usar o Google Finance a Seu Favor
Se você optou pelo Google Sheets, aqui vai o “pulo do gato” para não precisar digitar o preço das ações todo dia.
Na célula destinada ao “Preço Atual”, você usará a seguinte fórmula:
=GOOGLEFINANCE("CÓDIGO_DA_AÇÃO"; "price")
Exemplos práticos:
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Para Petrobras:
=GOOGLEFINANCE("PETR4"; "price") -
Para Dólar:
=GOOGLEFINANCE("USDBRL") -
Para Bitcoin:
=GOOGLEFINANCE("BTCUSD")
Isso manterá sua planilha viva. Assim que você abri-la, ela buscará os valores mais recentes do mercado. Isso economiza horas do seu tempo e garante precisão na hora de tomar decisões.
A Arte do Rebalanceamento de Carteira (Asset Allocation)
Agora que você tem os dados, o que fazer com eles? É aqui que entra a estratégia. Uma boa planilha deve ter uma aba visual com gráficos.
O conceito de Asset Allocation (Alocação de Ativos) diz que você deve definir percentuais ideais para cada classe.
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Exemplo: 30% em Ações Brasileiras, 30% em Ações Americanas, 40% em Renda Fixa.
Crie uma coluna na sua planilha chamada “Meta %”. Ao lado dela, a coluna “Atual %”.
A Regra do Sinal de Trânsito
Configure sua planilha (usando Formatação Condicional) para alertar você:
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Verde: O ativo está abaixo da meta (Hora de comprar/aportar).
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Vermelho: O ativo subiu muito e ultrapassou a meta (Hora de aguardar ou vender para realizar lucro).
O rebalanceamento obriga você a fazer o que é difícil psicologicamente: comprar na baixa e vender na alta. Sem uma planilha mostrando isso claramente, sua tendência natural será comprar o que está subindo (o que é um erro).
Monitorando a Renda Passiva: O Controle de Dividendos e Proventos
Para quem foca em Dividend Investing (Investimento em Dividendos) ou em Fundos Imobiliários (FIIs), o fluxo de caixa mensal é mais importante que a cotação do ativo.
Sua planilha precisa de uma aba específica para Proventos.
Colunas sugeridas:
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Data do Pagamento (“Data Com” e “Data Ex”).
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Ativo Pagador.
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Tipo (Dividendo, JCP, Rendimento).
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Valor por Cota.
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Valor Total Recebido.
Dica de Ouro: Crie um gráfico de barras mensal acumulativo. Ver as barras crescendo mês a mês é o maior motivador psicológico para continuar poupando e investindo. É a prova visual de que a “bola de neve” dos juros compostos está girando.
Renda Fixa na Planilha: O Desafio do CDI e da Inflação

Ações são fáceis de atualizar automaticamente. Mas e o CDB do banco ou o Tesouro Direto?
A Renda Fixa brasileira é complexa. Muitos títulos não têm atualização pública diária acessível via fórmulas simples como o Google Finance.
Como resolver:
Para manter a planilha simples e funcional, recomenda-se atualizar a Renda Fixa uma vez por mês.
Crie uma coluna de “Taxa Contratada” (ex: 110% do CDI ou IPCA + 6%). Isso ajuda você a lembrar se aquele título ainda vale a pena ou se é hora de buscar oportunidades melhores no mercado secundário.
Para usuários avançados, é possível criar scripts que buscam o valor do CDI acumulado, mas para o investidor comum, a atualização mensal manual no dia do aporte é um excelente hábito de revisão financeira.
Gestão de Risco: Como sua Planilha Salva Você de Quebras
Uma planilha não serve apenas para contar lucros; ela serve para gerenciar riscos. Em uma aba de “Análise”, você deve somar a exposição por setores.
O perigo da concentração:
Você pode achar que está diversificado porque tem 10 ações diferentes. Mas se 5 forem bancos e 5 forem seguradoras, você está 100% exposto ao “Setor Financeiro”. Se houver uma crise de crédito, sua carteira inteira desaba.
Use sua planilha para categorizar os ativos por setor (Bancos, Elétricas, Varejo, Tecnologia, Commodities).
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Se um setor representa mais de 20% ou 25% da sua carteira, acenda um sinal de alerta. A planilha deve mostrar onde você está vulnerável.
Imposto de Renda e Burocracia: Facilitando a Vida do “Eu” do Futuro
Ninguém gosta de pensar no Leão da Receita Federal, mas ele virá. E quando chegar a época da declaração anual, você vai agradecer aos céus por ter montado essa planilha.
Mantenha uma aba chamada “Histórico de Vendas”.
Sempre que vender um ativo, anote:
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Preço de Venda.
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Preço Médio na época da venda.
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Lucro ou Prejuízo apurado.
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Imposto devido (se houver).
No Brasil, vendas de ações acima de R$ 20.000,00 no mês (em operações comuns) pagam imposto. Se você tiver isso calculado mês a mês na planilha, gerar a DARF será questão de minutos, e não de dias de dor de cabeça revirando notas de corretagem antigas.
Erros Comuns ao Montar Planilhas (E Como Evitá-los)

Ao longo dos anos ajudando investidores, notamos padrões de erros que transformam a solução em problema. Evite-os:
1. Excesso de Complexidade
Não tente criar a planilha da NASA no primeiro dia. Comece com o básico: O que eu tenho, quanto paguei, quanto vale hoje. Fórmulas complexas quebram facilmente e desanimam a manutenção.
2. Misturar Moedas sem Conversão
Se você investe nos EUA e no Brasil, nunca some Dólares com Reais na coluna de “Total”. Crie uma célula com a cotação do Dólar do dia e converta tudo para sua moeda base (Reais) antes de somar o patrimônio total.
3. Esquecer de Registrar os Custos
Taxas de corretagem e emolumentos da bolsa (B3) são custos. Eles aumentam seu Preço Médio. Se você ignorá-los, seu lucro parecerá maior do que realmente é.
A Planilha como Mapa do Tesouro
Montar uma planilha de acompanhamento de carteira não é apenas sobre organização administrativa; é um ato de compromisso com seu futuro financeiro.
Ao visualizar seus dados de forma clara, você deixa de agir por impulso e passa a agir por estratégia. Você para de torcer para o mercado subir e começa a entender como lucrar independente do cenário econômico.
Reserve um tempo este fim de semana. Abra uma planilha em branco, pegue suas notas de corretagem e comece a digitar. O trabalho inicial é grande, mas a paz de espírito de saber exatamente para onde seu patrimônio está indo não tem preço.